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20 de julho de 2010

OPOSTO (parte 2)

             Luzes

          - Está bastante quente aqui, não acha, japa? - Japa. Era assim que o Carlos chamava-me desde a quinta série. Mesmo tendo olhos puxados e traços orientais, algo incomodava-me com esse apelido. Talvez porque vinha da boca do Carlos. Ele perturba o meu ser. - Que tal fazermos uma streap pra galera?
          - Ah, cara, me deixa fora disso! - Esquivei-me entre a multidão que dançava tirando, compassadamente, a roupa superior. Coisa de louco isso. 
          Ao sentar em uma poltrona que acabara de desocupar, prestei atenção nas pessoas ao meu redor. Tinha de todos os tipos e estilos que eu pude conhecer. Havia gordas usando roupa apertada, a qual acentuava a obesidade. Altos com cabelo raspado dos lados e um enorme topete vermelho, azul, verde, e rosa; pareciam pica-paus. Mulheres que beijavam ao mesmo tempo um só homem. Enfim, uma variedade incrível de seres.
          - O que aconteceu, gatinho? - Uma doce voz trouxe-me à realidade.
          - Ah, Claudinha, nada não! Só nunca pensei que fosse tão louco tudo isso.
          - Venha, vou pegar algo para você beber. - E puxou-me pela mão cuidadosamente. - Só não exagera nisso, ein! Olha, ali tem duas amigas. Que tal conhecê-las?
          Confirmei balançando a cabeça. Minhas pernas tremiam. Não queria conhecer menina alguma. Eu já tinha quem eu queria... Tomei em um só gole o restante da bebida. Criei coragem e segui em frente. A conversa fluiu. Não lembro exatamente, mas acredito que, depois daquele primeiro drink, vieram cerca de quatro outros. 
          Luzes. Música. Vibração. Ah, como é bom dançar!

       
          - Alguém está tirando a roupa no palco! - Vozes gritavam.
          Eu não estava entendendo nada. Era tudo muito engraçado. Sentia-me leve.
          Apertei os olhos. Luzes. Não acreditava no que via: Carlos dançando no palco. E mais: estava apenas de cueca! A única pessoa de quem eu lembrava era da Claudinha. Talvez estivesse enfurecida. Onde estaria ela? Luzes. Não enxergava nada direito. Tudo era tão divertido. 
          Olhei novamente para o palco. Havia duas pessoas lá. Não, não pode ser! A Claudinha!
          Luzes. Tudo rodava. Mas, que pernas! Nossa! Nunca imaginaria ver isso...
          - Ai, minha cabeça dói! 
          Parecia que ia morrer. Vozes. Que pernas bonitas! Os braços do Carlos não são os mesmos visto nesse ângulo. Seios? Luzes. Meninas beijando-se. Alguém caiu no chão. Que pernas! Uma cama? Confuso.
          Fechei os olhos.

          (...)

          - Você está bem, japa? - Abri vagarosamente os olhos. Que horrível dor de cabeça! Coloquei a mão no rosto.
          - Onde estamos?
          - Na minha casa. Você não lembra de nada? - Agora pude ver o rosto do Carlos. Parecia um anjo olhando para mim daquela forma.
          - Onde está a Claudinha?
          - Calma, japa! Está tudo bem... Ela foi à padaria. A propósito, o que aconteceu contigo ontem à noite? Tomou todas e desmaiou? - Detestei sua risada irônica. - Ficamos preocupados com você!
          - Não lembro absolutamente de nada. Minha cabeça dói. Preciso dormir mais um pouco...
          - Nada disso! Vou te levar para casa! Sua mãe deve estar preocupada...
          Minha mãe. Droga! O que vou dizer? Percebi que estava só de cueca na cama e perguntei:
          - Onde estão minhas roupas?
          - Ah, suas roupas eu dobrei e coloquei em cima da cômoda. Toma, vista-se. - Pela primeira vez não me envergonhei em está semi-nú na frente de alguém. - Vamos, pegaremos a Claudinha no caminho e você come algo no carro. Não podemos subestimar a fúria da tia Joana! (risos)
          Carlos pegou a chave do carro e foi para a porta. Fiquei parado observando-o por um tempo indeterminado. Três segundos? Um minuto? Cinco horas? Não sei. Uma eternidade. 
          - Valeu, japa! - E sorriu para mim.

         

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