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31 de julho de 2010

CAMINHOS

"Esse é o momento das decisões corretas, o nosso destino é só uma questão de escolhas. Eu decido o que terei amanhã. É a lei de plantar e colher. A minha semente de hoje, será o meu fruto amanhã."
(Caio Fernando Abreu)

Talvez as maiores decisões estão nos pequenos atos. Ou mesmo, os pequenos atos alheios te levam a decidir algo oposto ao que você sente ser verídico. E assim a vida prossegue. Sem ressetimentos, sem sentimentos. Um vazio extremo que atinge o olho. Isso mesmo, o olho! Tal vazio não atingiria jamais o seu cérebro, o qual não para de estimular a si mesmo a pensar em dor ou angústia. Nem o coração que é um órgão excepcionalmente forte para lutar inclusive contra um enfarte. Mas o olho. Esse é o órgão mais sensível e susceptível do ser humano. Um vento forte é capaz de fazer seu olho ressecar-se, caso não seja protegido pelas pálpebras. Ou, simplesmente um cebola pode fazé-los lacrimejar. Já ouviu falar na expressão "lágrimas de crocodilo"? É dito quando você finge chorar ou estar magoado. Para mim, não existe esse tipo de lágrimas. Afinal, ainda não considero-me um crocodilo.

Porém, como saber se uma decisão é realmente correta? Há uma fórmula para descobrir isso? Claro que há! Se a origem do Universo pode ser explicada por meio de equações, então deve existir um expressão verídica para uma escolha correta. Apenas, infelizmente, ninguém conseguiu desvendá-la.



Intuição. Uma percepção clara e imediata de como agirmos. Se uma canoa homogênea contém inúmeras bolinhas de aço e colocarmos mais da metade delas em um extremo da embarcação, intuitivamente tenderá a inclinar-se para tal extremo e afundará quando todas as outras bolinhas rolarem para esse ponto. Se você pegar uma semente de feijão, colocá-la em terra próspera e cuidar bem dela, intuitivamente brotará não um mini-exemplar de arroz ou de moedas de um real, mas um pezinho de feijão. Entretanto, podemos re-organizar mais uma vez (se liga ênfase!) a ordem das bolinhas na canoa e esperar nascer realmente um pezinho de feijão na terra. Assim, a canoa não afundaria e nem você decepcionaria-se ao ver uma árvore de dinheiro brotar de uma semente de feijão.

Edvar Soares.

30 de julho de 2010

JACUMÃ


Noite divertida. 
Mesmo ao som do CD de forró CAC do Rangel vol. 24, pessoas conseguem divertir-se. Diversão sem constrangimentos, sem preconceitos, com afinidades em comum acima de tudo. Uma mundiça em uma piscina circular de aproximadamente três metros de diâmetro dançando Waka Waka e tomando vinho misturado com Vodka. Terminando a noite, alguns escorregam, levam pancadas por correr com toalhas alheias, outros dormem em cadeiras ou mesmo no chão. Macarrão, violão e suco de alguma coisa desconhecida. (suco?) Vômito. Ato considerado uma constante que pode fazer de qualquer um sua vítima. Uma cama de casal para seis pessoas brincar de adoleta e contar supostas histórias em que um ser de preto bisbilhotaria nossa janela. Final: insônia.


Amanhecer o dia tocando Kid Abelha ou mesmo melodias sem letras apenas para agradecer por mais um dia de vida. Por mais um dia de amizades. Luz. Praia, castelos de areia susceptíveis à "bundada". Guerra de areia faz recordar, mais outra vez, infância. Mentes cansadas às dez horas da manhã. 
Dia divertido.

Edvar Soares.

28 de julho de 2010

CONTRADIÇÃO

"Olha: foi bom demais te conhecer. Me deu uma fé, uma energia. Sei lá."
(Caio Fernando Abreu)


Apesar de ter acordado de mal-humor por causa de uns pedreiros batendo na parede do apartamento abaixo, sinto-me bastante feliz. Engraçado isso. E contraditório.

Acredito que o amor deixa sim a pessoa mais leve. Mais doce. Mais boba. Quem diria, ein?! Um incrédulo do amor defendendo-o piedosamente.

Muita coisa para pensar hoje! Objetivos que deverei atingir antes das quatro da tarde. Mesmo com tanta preocupação na cabeça, e um tempo nublado, continuo sorrindo... Preocupações bobas? Ou devido à responsabilidade que adquiri ao longo dos meus vinte anos, nove meses e vinte e três dias?




 Amor, preocupação. Duas palavras complexas que unem-se por serem contraditórias e, do mesmo modo, similares.

Edvar Soares.

26 de julho de 2010

INÚTIL

Procurei qualquer coisa para escrever. Procurei alguma notícia interessante que chamasse atenção e prendesse um ou dois leitores. Daquelas notícias que você sempre quer ler mais e mais. Procurei pensar. Pensar em uma história engraçada, divertida e inusitada. Tudo em vão. Nada.

Às vezes, você sente a necessidade de escrever algo que uma pessoa, pelo menos, se interesse pela notícia ou história e diga para você: "Poxa, que legal!". Ou até mesmo: "Que merda, cara!". Qualquer coisa.

Ouço uma música para inspirar. Leio reportagens. Converso com alguém. Inútil.

Perca de tempo tudo isso? Para que essa necessidade de escrever para alguém ler? Talvez seja medo de ser esquecido. Ou melhor, medo de não ser lembrado. Sim, "ser esquecido" é diferente de "não ser lembrado". Pense um pouco!

Qual a nomeação que se dá para tédio com alegria?

Inútil.

Edvar Soares.

21 de julho de 2010

JOÃO


        
         "Porque é certo que as pessoas estão sempre crescendo e se modificando, mas estando próximas, uma vai adequando seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e à modificação da outra.
         Mas estando distantes, uma cresce e se modifica num sentido e outra noutro, completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra.
          Uma pessoa quanto tá longe vive coisas que não te comunica e tu aqui vive coisas que não comunica a ela.
          Então vocês vão se distanciando e quando vocês se encontram, vocês vão falar assim: oi, tudo bom e tal, como é que vão as coisas?
          E aí ele vai te falar por cima de tudo que ele viveu e, não sei, vai ser uma proximidade distante.
          Não adianta, no momento que as pessoas se afastam elas estão irremediavelmente perdidas uma para a outra.
          A gente sempre procura um amor que dure o mais possível.
          Procura, procura, talvez tu aches.
 
         (...)
 
          Esse espaço branco entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, as vezes.
          Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é.
          E tu vai vivendo aquilo, porque não aguenta o fato de estar sozinho."
 
         (Caio Fernando Abreu)


         Isso não significa absolutamente nada do quanto eu gosto desse bobão. Claro, as pessoas crescem e mudam. O mundo muda. Mas nossa amizade não vai ser interferida fortemente nessas mudanças. Vamos mudar juntos.
         Daqui há alguns séculos, vamos lembrar e rir juntos de tudo o que já aconteceu. Parece clichê, mas é pura verdade!
          Amo tu, cabeção!


         Edvar Soares.

20 de julho de 2010

OPOSTO (parte 2)

             Luzes

          - Está bastante quente aqui, não acha, japa? - Japa. Era assim que o Carlos chamava-me desde a quinta série. Mesmo tendo olhos puxados e traços orientais, algo incomodava-me com esse apelido. Talvez porque vinha da boca do Carlos. Ele perturba o meu ser. - Que tal fazermos uma streap pra galera?
          - Ah, cara, me deixa fora disso! - Esquivei-me entre a multidão que dançava tirando, compassadamente, a roupa superior. Coisa de louco isso. 
          Ao sentar em uma poltrona que acabara de desocupar, prestei atenção nas pessoas ao meu redor. Tinha de todos os tipos e estilos que eu pude conhecer. Havia gordas usando roupa apertada, a qual acentuava a obesidade. Altos com cabelo raspado dos lados e um enorme topete vermelho, azul, verde, e rosa; pareciam pica-paus. Mulheres que beijavam ao mesmo tempo um só homem. Enfim, uma variedade incrível de seres.
          - O que aconteceu, gatinho? - Uma doce voz trouxe-me à realidade.
          - Ah, Claudinha, nada não! Só nunca pensei que fosse tão louco tudo isso.
          - Venha, vou pegar algo para você beber. - E puxou-me pela mão cuidadosamente. - Só não exagera nisso, ein! Olha, ali tem duas amigas. Que tal conhecê-las?
          Confirmei balançando a cabeça. Minhas pernas tremiam. Não queria conhecer menina alguma. Eu já tinha quem eu queria... Tomei em um só gole o restante da bebida. Criei coragem e segui em frente. A conversa fluiu. Não lembro exatamente, mas acredito que, depois daquele primeiro drink, vieram cerca de quatro outros. 
          Luzes. Música. Vibração. Ah, como é bom dançar!

       
          - Alguém está tirando a roupa no palco! - Vozes gritavam.
          Eu não estava entendendo nada. Era tudo muito engraçado. Sentia-me leve.
          Apertei os olhos. Luzes. Não acreditava no que via: Carlos dançando no palco. E mais: estava apenas de cueca! A única pessoa de quem eu lembrava era da Claudinha. Talvez estivesse enfurecida. Onde estaria ela? Luzes. Não enxergava nada direito. Tudo era tão divertido. 
          Olhei novamente para o palco. Havia duas pessoas lá. Não, não pode ser! A Claudinha!
          Luzes. Tudo rodava. Mas, que pernas! Nossa! Nunca imaginaria ver isso...
          - Ai, minha cabeça dói! 
          Parecia que ia morrer. Vozes. Que pernas bonitas! Os braços do Carlos não são os mesmos visto nesse ângulo. Seios? Luzes. Meninas beijando-se. Alguém caiu no chão. Que pernas! Uma cama? Confuso.
          Fechei os olhos.

          (...)

          - Você está bem, japa? - Abri vagarosamente os olhos. Que horrível dor de cabeça! Coloquei a mão no rosto.
          - Onde estamos?
          - Na minha casa. Você não lembra de nada? - Agora pude ver o rosto do Carlos. Parecia um anjo olhando para mim daquela forma.
          - Onde está a Claudinha?
          - Calma, japa! Está tudo bem... Ela foi à padaria. A propósito, o que aconteceu contigo ontem à noite? Tomou todas e desmaiou? - Detestei sua risada irônica. - Ficamos preocupados com você!
          - Não lembro absolutamente de nada. Minha cabeça dói. Preciso dormir mais um pouco...
          - Nada disso! Vou te levar para casa! Sua mãe deve estar preocupada...
          Minha mãe. Droga! O que vou dizer? Percebi que estava só de cueca na cama e perguntei:
          - Onde estão minhas roupas?
          - Ah, suas roupas eu dobrei e coloquei em cima da cômoda. Toma, vista-se. - Pela primeira vez não me envergonhei em está semi-nú na frente de alguém. - Vamos, pegaremos a Claudinha no caminho e você come algo no carro. Não podemos subestimar a fúria da tia Joana! (risos)
          Carlos pegou a chave do carro e foi para a porta. Fiquei parado observando-o por um tempo indeterminado. Três segundos? Um minuto? Cinco horas? Não sei. Uma eternidade. 
          - Valeu, japa! - E sorriu para mim.

         

AMIZADE

           Amizade sem trato         

          "Dei pra me emocionar cada vez que falo dos amigos. Deve ser a idade, dizem que a gente fica mais sentimental. 
          Mas é fato: quando penso no que tenho de mais valioso, os amigos aparecem em pé de igualdade com o resto da família. E quando ouço pessoas dizendo que amigo, mas amigo meeeesmo, a gente só tem dois ou três, empino o peito e fico até meio besta de tanto orgulho: eu tenho muito mais do que dois ou três. 
           São uma cambada. 
          Não é privilégio meu, qualquer pessoa poderia ter tantos assim, mas quem se dedica? Fulano é meu amigo, Sicrana é minha amiga. É nada. São conhecidos. Gente que cumprimentamos na rua, falamos rapidamente numa festa, de repente sabemos até de uma fofoca sobre eles, mas amigos? Nem perto. Alguns até chegaram a ser, mas não são mais por absoluta falta de cuidado de ambas as partes.
          Amizade não é só empatia, é cultivo. Exige tempo, disposição. E o mais importante: o carinho não precisa - nem deve - vir acompanhado de um motivo. 
          As pessoas se falam basicamente nos aniversários, no Natal ou para pedir um favor - tem que haver alguma razão prática ou festiva para fazer contato. Pois para saber a diferença entre um amigo ocasional e um amigo de verdade, basta tirar a razão de cena. Você não precisa de uma razão. Basta sentir a falta da pessoa. E, estando juntos, tratarem-se bem. 
          Difícil exemplificar o que é tratar bem. Se são amigos mesmo, não precisam nem falar, podem caminhar lado a lado em silêncio. Não é preciso trocar elogios constantes, podem até pegar no pé um do outro, delicadamente. Não é preciso manifestações constantes de carinho, podem dizer verdades duras, às vezes elas são necessárias. Mas há sempre algo sublime no ar entre dois amigos de verdade. Talvez respeito seja a palavra. Afeto, certamente. Cumplicidade? Mais do que cumplicidade. Sintonia? Acho que é amor. 
          Só mesmo amando para você confiar a ele o seu próprio inferno. E para não invejarem as vitórias um do outro. Por amor, você empresta suas coisas, dá o seu tempo, é honesto nas suas respostas, cuida para não ofender, abraça causas que não são suas, entra numas roubadas, compreende alguns sumiços - mas liga quando o sumiço é exagerado. 
          Tudo isso é amizade com trato. 
          Se amigos assim entraram na sua vida, não deixe que sumam. Porém, a maioria das pessoas não só deixa como contribui para que os amigos evaporem. Ignora os mecanismos de manutenção. Acha que amizade é algo que vem pronto e que é da sua natureza ser constante, sem precisar que a gente dê uma mãozinha. E aí um dia abrimos a mãozinha e não conseguimos contar nos dedos nem dois amigos pra valer. E ainda argumentamos que a solidão é um sintoma destes dias de hoje, tão emergenciais, tão individualistas. Nada disso. A solidão é apenas um sintoma do nosso descaso."

(Matha Medeiros)


Um ótimo Dia do Amigo à todos meus AMIGOS!


Edvar Soares.

18 de julho de 2010

DESGOSTO

E das decepções?
Quais os proveitos que elas trazem-nos?
Força?
Coragem?
Inevitável chorar?
Evitável sorrir?
Desconfiança?
Desilusão?
Anos perdidos?
Anos escondidos?
Coração partido?
Ou corações partidos?
Amizade que rompe-se facilmente?
Vida nova?
Perguntas?
Respostas?
E das decepções?

Edvar Soares.

17 de julho de 2010

SEQUESTRO

          
            Não sabia onde estava, nem o que fazia. Apenas sentia uma dor insuportável e um cheiro fétido de xixi de rato. Escuro. Meu Deus, tira-me daqui! Novamente rolei para o outro lado em busca de uma saída ou mesmo uma ajuda qualquer. Inútil. Uma depressão; girei até lá e fiquei quietinho.
           Fazia muito frio, como se tivessem ligado um ar-condicionado permanente. Não sabia se tremia de frio ou de medo. Passos. Uma luz acende do outro lado de uma porta que antes nem sabia de sua existência. Ouço murmúrios e gritos de êxtase extrema. Por que estou aqui? O que faço aqui? Não consigo mais mover-me, acho que estou sem forças. Ou seria culpa da depressão?
           A fechadura girara vagarosamente na porta. Parecia uma eternidade. Entraram, um por um. E eram muitos, cerca de dez ou onze. Todos estavam com uma espécie de enorme camiseta branca. Seriam anjos que vieram me buscar? Espera, mas eles estão enumerados. Estou confuso. Estou perdido.
           Por que não acenderam a luz? Apenas via um clarão vindo de fora da fria sala.
          Não! Não pode ser... Atiraram ao chão outro igual a mim. Tadinho, a pancada fez com que ele saltasse umas três vezes. E parou. Ouvia gritos, empolgação, mas não conseguia entendê-los. Fui sequestrado por OVNI's? Não suporto mais esse cheiro; agora, misturado a um odor de suor, carniça.
          Uma campainha toca. Todos eles seguiram para o corredor além da porta. Silêncio.
          Fiquei preocupado com o colega que caiu no chão. Ele não se move. Será que desmaiou? Não! Não! Não! Não acredito no que vejo: vários iguais a mim do outro lado da sala. Como eu não havia visto antes? Mas estão bastante quietos. Mortos?
          Segundos depois, volta um dos sequestradores (sequestradores?) Vem em minha direção. O que quer de mim? Por favor, me deixe sair! Ele não me ouve. Continua, agora em passos rápidos, quase correndo, em minha direção. Estende os braços gigantes. O que quer de mim? Ele não me entende. Estou perdido. Chegou a minha hora.


          Correndo, ele carrega-me nos braços. Passamos por um extenso corredor. Infinito. Ouço gritos lá fora. Luzes fortes em minha direção. Mas, o que seria isso? Uma arena? Uma multidão de pessoas olham para mim. Algo dar um assobio prolongado.
          O rapaz que antes me segurava, me joga fortemente nos braços de outro com uma camisa de número zero-quatro. Gritos. Bato no chão com força, rolo para um lado e para o outro. Estava tonto.
          Vários outros com camisas similares, porém vermelhas, tentam agarrar-me. Vão destruir-me. Arremessado ferozmente para cima, vejo pessoas. De um lado, olham para mim com alegria, do outro, olham com espanto, dó. 
          Três segundos depois, uma eternidade para mim. Cesta!
          Um a zero.


OPOSTO (parte 1)

            Tulipas          

          Que merda! Nunca deveria ter agido daquela maneira com a Claudinha. Ela é tão doce, tão meiga. Sempre dava-me bombons quando recebia do namorado. E, mesmo quando tinha apenas um, ela dividia comigo. Agora, esbarro com ela e nem ao menos um sorriso, um olhar pra mim. Poxa, o que custa um sorriso? Mas espero que tudo termine bem. Afinal, toda história tem um final feliz, não é mesmo? (silêncio)



          (...)
          
          Sábado, pela manhã, comi um doce de leite que minha mãe terminara de fazer. Ela falou-me:
          - Menino, coma isso uma hora dessas não! Tá quente! Dá dor de barriga e você vai já almoçar.
          - Ah, mãe... Estou só raspando a panela, não é nada... - repliquei.
          Dito e feito! Duas horas depois, estava com uma imensa dor de barriga.
          - Bem feito! Quer mais doce? - Detesto o tom irônico da minha mãe! - Ei, menino, a Cláudia ligou pra você e disse que passa aqui sete horas com o boy dela. Ela disse que num era pra você se atrasar não. Ave Maria, sei que besteira é essa, passar uma hora arrumando esse pingo de cabelo!
          - Poxa, mãe, eu queria ter falado com ela. Por que não me passou o telefone?
          - Ela tava apressada, muleque. Deixa a menina dos outros em paz! Ou ela tá arrumando uma boyzinha pra você, ein?
          Com uma desgraçada dor de barriga, e ainda ouvir minha mãe encher o saco para que eu arranje uma namorada! Sai irritado da cozinha e corri para o banheiro.
           Após o almoço, deitei na cama e fechei os olhos.
          'Lá voltava ela. Tão lindo aqueles cabelos negros. Macios como uma pluma. Cheirosos como tulipas brancas em detalhes vermelhos. E sua pele? Tão branca que, de longe, via-se a ponta do nariz avermelhada devido ao frio. E corria ao meu encontro. Abraçou-me. Beijou minha face. Claudinha.
          - Carlos?! Por que está me beijando? Sai sai sai...'
          - Menino! Já está pronto? A Claudia tá lá em baixo com o Carlos.
          Sete e dez. De um salto, corri para o chuveiro. Poxa, no instante em que a Claudinha me beija e vejo o Carlos, minha mãe me chama. Bom, pelo menos o Carlos não me beijou. (risos)
          - Só um minuto! - Estava quase totalmente pronto, exceto, o cabelo. Não havendo mais tempo de arrumá-lo, coloquei a boina vermelha (há quem diga que parece com o chapéu do Mário, mas eu gosto porque tem a inicial do meu nome) e um cachecol. Olhei para o espelho: 'Estou lindo!'
          Ao descer as escadas, escuto minha mãe cochichar ao Carlos:
          - ... e tenham cuidado com drogas. Se o Marcelo não tiver camisinha, dá uma pra ele!
          - Vamos, pessoal?! - Cortei a conversa e dirigi-me à porta, antes que minha mãe começasse aquela velha lição de vida 'pré-balada'.
          - Ótima noite, Dona Joana.
          - Falou, tia.

          Frio. Entrei rapidamente no carro. Virei-me para Claudinha:
          - Então, para onde iremos dessa vez?
          - Amor, você sabe chegar no Night Bar? - Ai, como eu detesto quando ela chama o Carlos de 'amor'.
          - Claro! - E lembrei-me do Carlos tentando beijar meu rosto no sonho de hoje. Nojo. 


          - Lotado!
          Ao pegar minha identidade falsa (no Night Bar só entram pessoas a partir de 18 anos), abri a porta para a Claudinha descer do carro, como um exímio cavalheiro, e beijei a mão dela. Tão belo seu sorriso.
          Carlos pegou-a em um dos braços e tocou em meu ombro. Suas mãos são enormes. Fiquei para trás.
          Em direção à entrada do bar, percebi que eles dois não combinam. Cláudia é baixinha, tem traços europeus delicados (seria ela descendente de italianos?). Carlos, por outrlo lado, é alto e forte. Traços robustos de homem da idade da pedra. Cabelos negros, pontudos (deve gastar um litro de gel para o cabelo). Olharam para trás e, em sintonia, gritaram:
          - Não vai entrar, Marcelo? - Sorriram.
          Encantador.
(Continua)

15 de julho de 2010

AUTOR


Vezemquando bate uma vontade enorme de escrever? Escrever sem medo. Sem compaixão. Sem correr o risco de ser atropelado por um caminhão, mesmo este achando-se carregado de palavras soltas. Sem vergonha de errar o português. Sem motivos.

Um problema pode ser resolvido por palavras. Sílabas. Letras. Fonemas. Porque escrever distrai, desabafa. Sabe aquela tensão que você tem em suas costas, como naquele filme em que um espírito encontrava-se nos ombros do protagonista? Escrever também auxilia no exorcismo de espíritos. Não digo espíritos macabros que assistimos nos cinemas ou vemos na novela das seis. Refiro-me à parte imaterial do ser humano. Esta parte que, constantemente, esquecemos de aflorá-la a fim de fugir de uma possível dor de cabeça.

Assim que criam autores um blog. Sem pressão. Sem leitores. Você escreve para sentir-se confortável e, posteriormente, um leitor ou mesmo alguém sem compromisso mais sério avaliar suas ideias e admití-las ou não à sua vida social. Apenas por amar o que produz.


Agradeço, antecipadamente, aos meus possíveis leitores ou pessoas sem compromisso mais sério.

Edvar Soares.

HIPOCRISIA


A Hipocrisia do Ser

"Para que servem esses píncaros elevados da filosofia, em cima dos quais nenhum ser humano se pode colocar, e essas regras que excedem a nossa prática e as nossas forças? Vejo frequentes vezes proporem-nos modelos de vida que nem quem os propõe nem os seus auditores têm alguma esperança de seguir ou, o que é pior, desejo de o fazer. Da mesma folha de papel onde acabou de escrever uma sentença de condenação de um adultério, o juiz rasga um pedaço para enviar um bilhetinho amoroso à mulher de um colega. Aquela com quem acabais de ilicitamente dar uma cambalhota, pouco depois e na vossa própria presença, bradará contra uma similar transgressão de uma sua amiga com mais severidade que o faria Pórcia.

E há quem condene homens à morte por crimes que nem sequer considera transgressões. Quando jovem, vi um gentil-homem apresentar ao povo, com uma mão, versos de notável beleza e licenciosidade, e com outra, a mais belicosa reforma teológica de que o mundo, de há muito àquela parte, teve notícia.
Assim vão os homens. Deixa-se que as leis e os preceitos sigam o seu caminho: nós tomamos outro, não só por desregramento de costumes, mas também frequentemente por termos opiniões e juízos que lhes são contrários."


(Michel de Montaigne, in 'Ensaios - Da Vaidade')

Cansei de bancar o Universo, prender-me a uma rotina de 21h e ser o dono do mundo.


Passar bem,

Universo.

14 de julho de 2010

NUVENS


“Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.”
(Bicho de sete cabeças - Carta Anônima - Caio Fernando Abreu)

Caio consegue dar vida às palavras.

Amando,

Universo. 


13 de julho de 2010

CAFEZINHO

O Humor é capaz de perceber e apreciar o que é cômico, divertido. Até nas situações mais inusitadas, como aquela gravata cafona do seu chefe combinada ao seu bigode que insistem em olhar para você durante uma reunião, o Humor pode acompanhá-lo. Com uma forma de expressar única, o sorriso, ele traz-me um refúgio; uma apreciação da monótona vida que levo.

 Café.  Infusão de um fruto, depois de torrado e moído, a que, em geral, se adiciona um adoçante. Cor escura. Relaxa. Em excesso, tira o sono. Em dose moderada, é ótimo para o colesterol.



Contam-se uma história a qual é perceptível uma grande importância do café: sem ele, você pode ser pego!

Na fuga de dois leões (mamíferos carnívoros absolutamente belos) de um Jardim Zoológico, cada um tomou um rumo diferente. Um dos leões fugiu para as matas e o outro para o centro da cidade. Procuraram-os por toda parte, mas não os encontraram.



Um mês depois, voltou um leão magro e faminto. E, para surpresa geral, era justamente o leão que fugira para as matas. Assim, foi reconduzido à sua jaula.




Meses depois, após o esquecimento do outro leão, que fugira para o centro da cidade, o bicho foi recapturado. E voltou para sua antiga jaula no Jardim Zoológico, gordo e totalmente saudável. Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para a floresta perguntou ao colega:



- Como conseguiu esconder-se na cidade por todo esse tempo, e ainda voltar com saúde? Eu, que fugi para a mata, tive que voltar porque não encontrei nada para alimentar-me...













O outro leão explicou:

- Enchi-me de coragem, e fui esconder-me em uma repartição pública. Havia muitas pessoas. Cada dia, comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.


- E por que voltou para cá? Acabaram-se os funcionários?

- Nada disso! Funcionário público é coisa que nunca se acaba! É que eu cometi um erro gravíssimo... Já tinha comido o diretor geral, dois superintendentes, cinco adjuntos, três coordenadores, dez assessores, doze chefes de secção, quinze chefes de divisão, várias secretárias, dezenas de funcionários e ninguém deu por falta deles! Mas, no dia em que comi o infeliz que servia o cafezinho... Estraguei tudo!


Moral da história: Jamais subestime o poder de um funcionário que serve café.

Nada a ver.

Att.,

Universo.